sábado, 2 de fevereiro de 2013

Tapa os olhos! Não olha pra TV agora!!!!

Há coisa de alguns dias atrás, surgiu o assunto sobre um bug ocorrido em um canal de programação infanto-juvenil, que gerou bastantes discussões. Ocorreu que durante a exibição de um desenho, entraram imagens de um canal erótico por alguns instantes. 


Resultado: crianças sem entender, pais e mães envergonhados, um sem-saber o que estava acontecendo, de todos os lados. O ponto de minha abordagem não tem o intuito de questionar de quem é a culpa do fato ou porque razões isso aconteceu, mas sim, como podemos lidar com este tipo de informação.

Recentemente, aqui em casa aconteceu algo meio parecido. As crianças estavam acessando sites de jogos e brincadeiras infantis, minha filha ainda não sabia escrever e o irmão ajudava. Dentre as ajudas, ele digitava palavras que acabavam gerando imagens diversas no site de busca e, consequentemente nem tão inofensivas assim. Vou explicar! 

Eles digitavam palavras como bunda, borboleta, por exemplo. E as imagens localizadas eram surpreendentes e geraram algumas conversas por aqui. Não bastasse isso, tendo em vista que a pequena não sabia escrever, às vezes tentava copiar coisas e numa dessas, colocou letras a mais em um endereço e foi parar num site totalmente pornográfico.

Em um primeiro momento, fiquei chocada, arrasada, tomada por um sentimento de invasão de tudo aquilo de que eu pretendia proteger meus filhos por ora... E então tive que respirar fundo e sair fechando janelas do computador, tentando dizer que aquelas imagens eram coisas de adulto. Coisas que criança não tem que ter acesso e portanto mamãe estava tirando da área.

Pois bem, aqui em casa sempre esclareci meus filhos na medida em que foram surgindo solicitações, dúvidas e questionamentos. Não escondi nunca deles o fato de que bebês nascem a partir de uma relação sexual entre um ser do sexo masculino e outro do feminino. Não entro no detalhe explícito descritivo, mas falo com termos que podem ser vistos nos livros de Biologia, de forma limpa e natural. 

Eles percebem desde cedo as diferenças entre homens e mulheres, e isto não é e nem nunca será motivo de vergonha ou repúdio. Sim somos diferentes e complementares, fora que também temos que estar preparados para as perguntas sobre homossexualidade - que são casais que não podem se reproduzir da forma natural, mas podem sim ser complementares em seu amor, enfim. Não vou contestar as crenças de ninguém e nem dizer que estimulo qualquer tipo de orientação sexual. Falo sim sobre o que legitima a vida, a reprodução e o que se vive aqui em casa, que é a heterossexualidade.

Penso que o mais importante diante de uma surpresa inesperada como esta é agirmos com a naturalidade de quem fala sobre a fisiologia dos organismos. Com a mesma naturalidade que se fala da importância das funções vitais, deve ser falada a função do aparelho reprodutor. Não estou tratando da questão como se fôssemos apenas seres reprodutores, isentos de prazer e nascidos neste mundo apenas para perpetuar a espécie. Estou referindo que para as crianças, o melhor é entender o processo sem preconceito, sem precipitação, sem estimulação desnecessária e precoce. Sim, enquanto são pequeninas melhor compreenderem sexo como reprodução. E quantas vezes nas ruas flagramos cães e cadelas em pleno ato sexual? Como vamos boicotar a cena ou impedir as crianças de assistirem? E se perguntarem, enganaremo-nas?


É preciso ter segurança, informações concretas e legítimas para se passar às crianças. Falar sobre sexo ainda é um obstáculo doloroso, difícil e às vezes vergonhoso para muitas pessoas e famílias. Mas é preciso entender que esclarecimento é o inimigo número um do preconceito e da falta de entendimento sobre o assunto. Já escutei de terapeutas especialistas em atendimento psicológico para adolescentes, que quanto mais conscientes e melhores informados sobre corpo, sexualidade e reprodução forem os/as jovens, menos propensos a cometerem equívocos e gravidez indesejada (por exemplo), estarão.

Vale a pena se informar, buscar discutir o assunto com pessoas que possam esclarecer, ajudar a entender, explicar como funcionam nossos órgãos, hormônios, o corpo e os próprios elos sociais que unem ou apartam homens e mulheres. Não precisamos de uma crença religiosa para justificar os fatos, nem tampouco podemos usar a religião como uma forma de defesa para erros. São tópicos diferentes e delicados. 

Sexo é importante, faz parte da vida da gente assim como será parte da vida de nossas filhas e filhos no futuro em que puderem bancar o contexto e o significado de envolver-se corporalmente com outra pessoa. Ninguém precisa sair inserindo as crianças no mundo de imagens deturpadoras, maldosas ou desnecessárias para safar-se do risco de estar negando informação ou  acreditar que com isso está fortalecendo a orientação sexual de meninos e meninas. 

É válida a conversa, o não temer as perguntas, o poder fornecer respostas e se não souber/tiver como dá-las, partir em busca de caminhos que fortaleçam a ideia de trazer a coerência do que se quer ver refletido na vida de cada um deles. Fechar as portas e dar as costas para o que querem saber, é fechar portas para nós mesmos. É negar passagem para a parceria e para os caminhos que bem podem ser trilhados juntos. 

Então, como alívio da mágoa de não sentir-se estruturado(a) para falar sobre "aqueles" assuntos com os filhos, sugiro leituras, busca de informação fidedigna, conversas abertas com especialistas, conhecimento de si próprio e um mergulho na própria história de vida. Trazer para um filho a oportunidade de ser acolhido em suas dúvidas, mais do que a informação, propicia a confiança e o encorajamento para a verdade, para a segurança da caminhada e dos próprios alicerces de relacionamento a dois: no futuro, na idade adequada para isso ser vivido.





Comentários
7 Comentários

7 comentários:

  1. Fico impressionada com a forma como você se esparrama num determinado assunto e se faz entender tão bem. Muito bem. Penso da mesma forma. Temos que cuidar sim do que nossos filhos tem acesso, mas estarmos sempre prontos pra determinadas situações, e não é justo com eles, que lhes ocultemos a verdade. Mesmo que de forma suave e incompleta, é importante levar a sério suas dúvidas. Beijos, lindona!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Lily! Educar filhos é movimento constante de rever posturas, pensamentos e até nossa criação. Eu procuro estar sempre em dia, para que eles também se sintam acolhidos e sempre com um porto seguro para esclarecerem as dúvidas...Bjks e amo tuas visitas por aqui!

      Excluir
  2. Olá!! Ainda não sou mãe, mas entendo perfeitamente o que você disse.

    Tenho um sobrinho que está na fase das perguntas e às vezes ele nos surpreende com alguns questionamentos complicados de se responder para uma criança de apenas 7 anos.

    Tento explicar partindo do ponto de vista técnico o qual se pode encontrar em qualquer livro de biologia. Mas, que é difícil é.

    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Com certeza, Crys!Mas o importante é dar uma resposta onde se possa legitimar a informação. Falar sobre determinados assuntos é desafio a ser vencido com o tempo, com as nossas vivências. Ainda assim, é melhor estabelecer espaço de conversa em casa, na família do que nos papos de rua, onde muita informação incoerente e até desprezível, pode surgir! Adoro tua presença por aqui! Vem sempre! bjks

      Excluir
  3. Oi! Sabe que um dia desses aconteceu uma coisa parecida aqui em casa quando a minha filha de nove anos (ela tinha oito) digitou Cinderela no Google Imagens. Quase entrei em colapso com as imagens, mas acho que nem deu tempo de ela ver nada.... no mais procuro explicar as coisas na medida que as dúvidas vão aparecendo.
    Beijos
    http://deliriosdathaty.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Thaís, a conversa deve ser franca e atender às dúvidas na medida em que aparecem. Não se pode despejar um caminhão de informações sobre as crianças e nem tampouco privá-las do mínimo considerável. É importante falar, nunca esconder nem disfarçar, deixando clara a abertura e o espaço de conversa. Agora o Google é uma caixa de surpresas mesmo, palavras aparentemente inocentes levam à cada imagem... Conta comigo! Se quiser ideias de abordagem ou referência bibliográficas para ajudar na conversa, pode mandar inbox! bjks e obrigada pela visita!:)

      Excluir
  4. Kathleen, você abordou da melhor forma possível e tem que ser assim mesmo, com naturalidade.

    Beijos, querida!

    ResponderExcluir

Pode escrever seu recadinho! Adoro visitas em meus posts!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Voltar ao topo